A história dessa família não é diferente da de muitas outras produtoras de cafés especiais, exceto que são negros. Caso raro no país, cujo crescimento e desenvolvimento foi forjado graças ao trabalho dos escravos negros vindos da África.

Essa podia ser mais uma história sobre pequenos produtores de café especial no Brasil. Mas ela se distingue porque os personagens são negros, descendentes de escravos africanos, que chegaram ao país para trabalhar nas lavouras, principalmente as de café. Quando a escravidão terminou, os negros foram substituídos por mão de obra branca, em especial, os italianos. Os negros alforriados foram obrigados a deixar as terras e o conhecimento adquirido pelo tempo de trabalho com o café se perdeu.
Os Peixoto encontraram, na coletividade, uma forma de contrariar as estatísticas.
Após anos trabalhando como meeiros na lavoura do café, Roberto Peixoto e mais seis de seus irmãos – Sebastião, Hamilton, José Thiago (in memorian), Mário Lucas, Joaquim e Antônio - conseguiram se unir e adquirir um pedaço de terra. A propriedade tem 44 hectares e fica em Santo Antônio do Amparo/MG.
Todas as etapas da produção são executadas pela própria família, que inclui irmãos, esposas, filhos e sobrinhos. Cada núcleo familiar é dono e responsável por alguns talhões de café, mas em períodos mais intensos como a colheita, o trabalho é feito por todos sem distinção.
Eles produzem cafés especiais a uma altitude de 1.140 metros, e querem mais: as gerações mais novas tem acompanhado as mais experientes no campo e se profissionalizado nos diversos cursos ministrados na região.
Desde de 2020, exportam 80% da sua produção de cafés especiais para os Estados Unidos através da BD Imports, presidida por Phyllis Johnson, mulher negra e estadunidense. Phyllis é grande parceira dos Peixoto desde que os conheceu, quando veio ao Brasil em busca de produtores negros de cafés especiais - como parte de sua jornada pela equidade racial no mercado de exportação.
Quem conta essa história é a esposa de Roberto, Neide Peixoto:
Quando começamos a produzir café, nunca tínhamos ouvido falar em cafés especiais. Mas as pessoas iam lá no sítio e diziam que nosso café tinha algo especial. Lembro de alguns provadores de café que iam lá e diziam que nosso café estava bebendo bem e que deveríamos inscrevê-lo num concurso.
Neide está se referindo ao concurso promovido pela EMATER e pela Fundação alemã, Hans R. Neumann, da Neumann Koffee Gruppe, líder mundial em comercialização de café verde, com sede em Hamburgo, na Alemanha. Em 2008, participaram pela primeira vez e ganharam e, nos anos seguintes, sempre se destacaram.
O fato de vencermos o concurso por diversas vezes e, em outras, ter se classificado em segundo e terceiros lugares, abriu nossos olhos e começamos a procurar cursos para entender melhor esse mercado. A verdade é que a gente ganhava o concurso, mas não conseguia vender nosso café como especial, somente como commoditie, para a cooperativa da região, explica Neide.
O tempo foi passando e o conceito de café especial foi se espalhando e começaram a aparecer vários cursos sobre a produção de cafés especiais e a família Peixoto percebeu aí uma grande oportunidade de conseguir um melhor valor para suas sacas.
No começo, eu ficava no sítio de segunda a sexta e, no final de semana, ia trabalhar no salão de beleza que montei na cidade. Quando as coisas melhoraram um pouco, larguei o salão e passei a ajudar integralmente a produção de cafés do sítio, principalmente no pós-colheita, conta.
Apesar dos irmãos trabalharem juntos, eles decidiram que seria melhor dividirem os talhões para cada um administrar o seu, como uma micropropriedade.
Atualmente, a família Peixoto possui 74 mil pés produzindo e mais 10 mil recém-plantados, das variedades Mundo Novo, Acaiá, Catucaí Vermelho e Amarelo, Arara, Paraíso, Topázio, Catuaí Vermelho e Amarelo. Tudo produzido com muito cuidado, sem misturar os talhões ou variedades, nem deixar fermentar.
Segundo Neide, quem quiser experimentar seus cafés no Brasil, terá que comprar do Café di Preto (@cafedipreto), porque o restante irá para o mercado externo.
Para o futuro, pretendem continuar investindo em qualidade, colheita seletiva manual e montar uma pequena torrefadora, para prova dos próprios cafés.
Meu sobrinho, Uender, está estudando para provar os cafés e, como consequência natural, torrá-los para vendermos aqui na fazenda”.
Santo Antônio do Amparo e a Família Peixoto fazem parte da gente, fazem parte das vertentes.
Reportagem veiculada originalmente em: graoespecial.com.br/familia-peixoto-produtores-de-cafes-especiais/
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